segunda-feira, abril 10, 2006

Sobre o Fim de Semana II

Sexta à Tarde.

Incrível como a percepção de alguns lugares se altera com determinados acontecimentos. Uma esquina, uma porta de uma loja, chuva caindo, e um significado totalmente diferente. Tenho curiosidade em saber se algum dia voltarei a ver algum desses lugares alterados em minha perspectiva com a mesma insignificância que eu via antes.
Acho que sim, sei lá... Mas a referência que eu tenho para achar que sim também não é boa.



“Porra Capeta, Mas Isso é uma Padaria!” (Sexta à noite)


Dois amigos de média data, que normalmente não se vêem tanto assim, mas quando se vêem conversam bastante, em uma carro:

-...Ela mudou de cadeira uma vez, mas tudo bem, beleza, vamo lá... Aí mudou de cadeira de novo?! Ah não, péra lá! Aí eu peguei o telefone e te liguei, “Ros me tira daqui”. Não dá... É aqui?????

-É, acho que é aqui...

Carro entra num estacionamento, chave fica com o manobrista, os dois saem e começam a andar na direção da entrada...

-Porra, mas eu achei que fosse um Pub! Tá com cara de padaria!

-Eu sabia que não era um pub, mas o Pita tinha dito que à noite virava um bar...

Os dois entram, e pegam comandas, daquelas de plástico duras, parecidas com as do Graal...

-Mas isso é uma padaria!
-É, ta com cara de Graal...

-Ah não, eu vim parar num Graal! (com um sorriso debochado e gesticulando muito)

Acham outros dois amigos sentados a uma mesa, e se juntam a eles.

-Porra Capêtaaa! Você me trouxe num Graal! Isso é uma Pa-da-ri-a!
-Ah Doce, pára de reclamar! Eu avisei que o lugar...

-É uma padaria Capêtaaaa! Eu achando que tava indo num pub, escuro... Mas tô numa padaria!
-Pita, isso é uma padaria...
-Naaaaaah Ros, vcs reclam...
-Padaria Capeta!... Porra Capêta, você me trouxe num Graal!

...

Nessa noite de sexta fui com Docinho o Pita e o Repolho no Tortula, que segundo o Pita era uma padaria-restaurante durante o dia e de noite viraria um bar, com uma seleção de cervejas gigantescas. Fica na Av. Santo Amaro, entre a Av. Roque Petroni e a Av. Águas Espraiadas (Fói Malóf qué fééééz!).

Na verdade é uma padaria estilão Graal, com um jeito um pouco mais descolado e umas mesinhas bem arrumadas, algumas numa sacadinha simpática.
A seleção de cervejas é boa, mas em relação às importadas tem uma variedade um pouco menor do que o Asterix (butecão na esquina da Paulista X Joaquim Eugenio), com preços mais ou menos iguais. A seleção de nacionais “artesanais” é bem respeitável, assim como os preços (algumas mais caras que as importadas).

Comecei pedindo uma Norteña junto com o Docinho (cerveja uruguaia, garrafa de 960ml).
Caiu uma sujeira no copo do Docinho e o garçon, um baianinho com dentes medonhos e cara de motoboy (não, não estou sendo preconceituoso, essa é a descrição perfeita por cara) perguntou pro Doce se ele queria que tirasse a sujeira do copo, qualquer coisa do tipo. O Doce disse que sim, e o garçon voltou com o copo vazio. Sem sujeira. E sem cerveja! Ele simplesmente jogou a cerveja fora! Bom, é isso que dá ir beber numa padaria...
A Norteña era boa (a nossa ficou com ~700ml), mas nada espetacular. Ainda assim melhor que qualquer nacional genérica.

Em seguida pedi uma Devassa Ruiva, cerveja “artesanal” oriunda do RJ. Antes que alguém faça um comentário maldoso, eu pedi essa cerveja apenas por gostar do tipo dela (era uma amber), e não exatamente pelo nome. Fosse pelo nome talvez eu devesse ter procurado uma Devassa Loira(!!!!!). Mesmo uma Devassa de Cabelos Castanhos na Altura do Pescoço (!!!), ainda empataria com a Devassa Ruiva, mas não creio que exista uma cerveja com esse nome (Cerveja? Quem falou em cerveja?).
O Doce acabou seguindo o meu pedido...

...

Lá pela uma da matina o Repolho foi embora, e nós três restantes acabamos nos dirigindo ao Asterix, gastar mais dinheiro com cerveja importada. Quer dizer, eu não gastei, só pedi uma nacional e ainda esperei ela esquentar um pouco para poder beber, porque minha garganta começou a ficar podre...

...Cheguei em casa perto das 4, e já com febre.

Sábado.

Dia seguinte, acordo pra ir ao ensaio. Ao menos essa era a intenção. Pego o telefone e ligo pro meu irmão (voz rouca, trêmula e fanhosa):
-Ma? To ligandu bra avisar que eu não bô hodje... To com a garganda bodre e com vebre.Ele (voz de mau-humorado, como se não acreditasse):
-Tá, então tá então.

Como se eu tivesse me forçado a ficar gripado para ter uma desculpa para não ir ao ensaio... Ou tivesse inventado a gripe como desculpa.

...

O sábado inteiro foi podre. À noite eu dei uma melhoradinha (ao menos da febre), e encontrei uns amigos num buteco aqui perto, na Av. Aclimação.
Antes de sair meu irmão havia ligado, avisando que tinha descolado uns ingressos pra ver a Stock Car em Interlagos. Fiquei de ligar domingo de manhã avisando se eu iria ou não.


Domingo.

8h da manhã. Noite inteira sem dormir, nariz tampado e escorrendo, garganta fechada e febre indo e voltando. Pego o telefone e ligo pro meu irmão (voz idêntica a do dia anterior, talvez ainda mais podre):
-Ma, boa corrida. Dão bai dar breu ir.
Ele (voz mal humorada, como se não acreditasse):
-Mas eu sabia! Eu tinha certeza que você não ia! Bom, tá bom, até.

Incrível! Eu perco um evento que eu gosto e estou querendo ir faz muito tempo e ainda sou tratado como se estivesse dando desculpas para preguiça.
Eu assisti duas Stock. A última foi ainda na época dos Ômegas, eu entrei de bicão numa corrida que meu irmão bandeirou, e isso deve fazer uns 10 anos.
A primeira foi ainda na época dos Opalões, e do traçado original de Interlagos (8km), ou seja, foi antes de 1989.


.....


Porque raios as pessoas duvidam de quando eu dou um motivo pra não comparecer a alguma coisa afinal?
Será que existe algo em mim que faz parecer que eu preciso inventar razões para ser anti-social?
Será que parece que eu tenho algum motivo secreto pra não comparecer e preciso ficar inventando desculpas?

Se eu digo que não vou porque estou sem dinheiro é porque estou sem dinheiro, se eu digo que não vou porque estou gripado é porque estou gripado, e assim por diante, e não porque tem alguém ou alguma situação que eu esteja evitando. Ou alguém que eu não gosto, etc.
Me perturba quando duvidam dos meus motivos. Se por acaso meu motivo para não aparecer em algo não é socialmente “revelável”, então eu não digo nada.
Eu não fico inventando desculpas.

2 Comments:

Blogger pita said...

não é que eu acho que vc invente desculpas, mas eu acho que vc usa os motivos de forma indevida.
do tipo "eu não tenho dinheiro pra fazer tal coisa" e sai falando da sua viagem ao chile (ou à ilha) (sim, a ilha, aquela!)
ou quando vc some de final-de-semana do teu grupo (e olha que eu nem era do grupo) pra ir pra miami comprar uma lente de máquina
hehehehe

10:41 PM  
Anonymous Anônimo said...

1) Ei... Você viu que a Sandy tá ruiva agora?... Partidão, hein, Ros... (!) O duro deve ser aguentar o Junior na noite de núpcias...

2) O Pita foi bastante direto agora. Mas, a gente nunca põe em dúvida seus motivos. As pessoas apenas observam suas atitudes... E talvez uma solução boa esteja aí para que isso pare de acontecer. Agora isso do seu irmão é coisa que você tem que resolver com ele. hehehe. Porque a gente já parou de dar importância às suas "desculpas" faz tempo... Pelo menos eu já...

3) Tava bom o Asterix? Eu adorei sair de um "bar" e ainda levar umas comprinhas pra casa! hahaha.

11:50 PM  

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