quinta-feira, novembro 03, 2005

Como um dia pode dar errado (terça 01nov2005)


Sábado, 15/10/2005.

Aniversário de um amigo próximo, o Keyller (que agora mudou o nome pra Guillem e não sei mais como chama-lo). Para comemorar ele convidou os amigos para passar o dia na casa dele de Ibiúna, onde ele faria uma paella. As orientações eram chegar cedo, aproveitar o dia, a piscina, as piadas do pai dele, essas coisas. Eu bem que pretendia a princípio chegar lá cedo, mas como duas amigas minhas, a Amanda e a Viviane, tinham compromissos de manhã (pos e trabalho respectivamente), acabei atrasando minha saída para elas irem comigo, assim eu aproveitava e não perdia o ensaio com a banda (do meu irmão), mesmo porque eu já tinha pago por ele.
Eu estava ansioso pela festa. Eu gosto do ambiente da casa deles Ibiúna, muito pelas pessoas mas também pela casa, as paellas do Keyller são sempre muito boas (mesmo a paella de abelha* estava boa), e seria uma oportunidade de conhecer gente nova e rever gente que eu não vejo há muito tempo (uns 6 meses, outros 2, 3 anos), incluindo algumas amigas bonitas do Keyller. A festa seria também uma forma de me afastar das coisas que tinham dado errado nas duas semanas anteriores, esquecer um pouco o Outubro Negro que eu vinha tendo, ou ao menos passar um dia me divertindo sem pensar nos problemas.

...

Ensaiei com a banda das 10h as12h (Agora não me lembro direito do ensaio, mas lembro que saí mau-humorado, o que significa que deve ter sido uma merda. Mas talvez já estivesse mau-humorado antes do ensaio), e depois do ensaio dei uma embaçada pela Teodoro, olhando algumas vitrines, para embaçar até às 13h, hora que eu combinei de encontra-las na estação Clínicas do metrô. Com algum atraso, 13h15 saímos do estacionamento na frente do estúdio na Teodoro, e meia hora depois estávamos entrando na Raposo.
Entrei na Raposo acelerando no subidão do início para chegar aos 100km/h do limite, fiz a primeira curva pra direita, provavelmente tangenciando, porque no curvão para a esquerda em seguida eu estava na faixa da direita. Ao entrar no curvão para a esquerda vejo um Uno escapando (me lembro de um Passat vermelho escapando também, mas a memória do acontecido ficou meio confusa) e batendo no guard-rail. Imediatamente eu pensei em algo como “mas que cagada esse cara está fazendo?”, e enquanto pensava isso já virei tudo para a esquerda e levantei o pé do acelerador, na expectativa de me livrar de bater no Uno, que ainda não tinha parado.
Quando fiz isso perdi por completo o controle do Corsa, e fui escorregando direto para o guard-rail, como se tivesse esquis e não pneus, sobre o que depois descobri que era óleo, muuuuito óleo. Não lembro se cheguei a falar algo para as meninas (editando: cheguei a falar sim, disse "Tem óleo na pista". Em seguida aconteceu um shhhhhh POF!), avisar que ia bater. Acho que não.
Bati a 100km/h, e fui escorregando junto ao guard-rail, ralando todo o carro, em parte porque o carro ficou preso em uma vala entre o fim da pista e o guard-rail. Enquanto eu ainda estava em movimento e ralando o carro assisti pelo espelhinho um Clio batendo também no guard-rail atrás de mim, e vir ralando como eu até parar praticamente encostado no meu carro, que já estava parado.
De repente um instante de calmaria (provavelmente poucos segundos), olho para ver se está tudo bem com as meninas. Pergunto “tudo bem” e recebo uns murmúrios afirmativos. De repente um barulho de pneus cantando, muito forte, indicando mais um ia se juntar à festa. Olho pela janela e vejo outro Uno atravessando direto da faixa da esquerda na direção do meu carro. Cruzo rápido os braços na frente do peito e grito “se protege” ou algo do tipo para as meninas. Ele me acerta em cheio na minha porta, um impacto tão ou mais violento quanto o que eu tinha dado sozinho. Passo um instante meio aéreo depois da batida (talvez nem um segundo), tiro o cinto, olho pelo espelhinho e vejo dá para sair, então pulo para fora do carro, quase caio escorregando no óleo e grito para as meninas (provavelmente fui bastante grosso nessa hora, mas não dava muito pra ser polido) “Sai, sai, pra fora, rápido” ou coisa do tipo. A Viviane, que estava no banco de trás entende e vem saindo. A Amanda vira pra mim e diz algo como “Não dá. Minha porta não abre”, o que era óbvio, já que a porta dela estava prensada guard-rail. Respondi grosso de novo, “Por aqui, rápido”. Nisso ela entende, tira o cinto e tenta sair pela porta do motorista, mas quando ela faz isso prensa a Viviane, que já estava levantando o meu banco pra sair. Resolvi puxar as duas pra fora, mas não lembro a ordem que saíram. Eu estava já desesperado, com medo de ser prensado por mais algum carro descontrolado. Acho que foi o momento mais tenso do acidente. Saímos patinando pelo óleo, com dificuldade até para ficarmos de pé e pulamos o guard-rail para uma espécie de pracinha que tinha atrás, e que a essa altura já estava lotada de pessoas que tinham vindo ver o acidente. O acidente tinha acabado. Agora começava a dor de cabeça.
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Fora do carro, em um lugar meio protegido cai a primeira ficha. Eu dei minha primeira grande porrada de carro. A primeira que poderia ter sido “kaput”. Mas eu estou bem. E me vem à cabeça vontade de fazer uns telefonemas apenas para falar que estou bem, que estou vivo. O primeiro foi para casa. Falo com minha mãe, que depois me passa para meu pai. Não lembro de nada da conversa, mas lembro que meu pai nitidamente não havia entendido o acontecido. Enquanto falava com eles chega no local do acidente uma equipe de manutenção da rodovia do DER e em seguida um policial rodoviário. Desligo dos meus pais e ligo para o seguro, afinal para mim era só tirar o carro (ou melhor, o que sobrou dele) dali e levar para a oficina. Nisso a amanda me avisa que o policial pediu os documentos. Deixo tudo na mão dela e peço para ela entregar para ele.
E aí começa a parte 2 do “Quanto um dia pode dar errado”. Após desligar do seguro a Amanda vem falar comigo, algo sobre não ter encontrado o documento do carro, não lembro. Procuro na carteira de documentos e entrego o documento mais novo que encontrei, o de 2003 para o policial, o sgt Martinelli. Ao pegar o documento ele diz “ta meio atrasado esse aqui não?”.
Começava outra dor de cabeça, a de procurar o canhoto do pagamento eletrônico do licenciamento. Depois de um tempo eu encontro o que achava ser o canhoto de 2004, e ele estava com a tinha completamente apagada. Mais desespero. Segue um zilhão de telefonemas para casa, para perguntar do licenciamento, intercalados por outro zilhão de telefonemas, do seguro, para confirmar minha localização. No meio desses o policial me avisa que iríamos agora para o posto da PMR, no km18, e que meu carro seria guinchado para lá.
Fomos de carona com ele, e no posto a dor de cabeça dos telefonemas para casa continua, junto com os telefonemas para o seguro, agora para avisar que o carro seria guinchado pelo DER para o posto da PM. A Amanda liga para o pai dela verificar pela internerds o status dos licenciamentos do meu carro. E começa a cair a 2ª ficha. Eles estão realmente atrasados. O carro vai ser apreendido. Ligo para casa, falo com meu pai, que novamente não entende direito o significado o que estou dizendo.
Horas passam até que meu carro que seria apreendido chega ao posto policial. Nesse meio tempo, sento no sofá rasgado do posto policial, e a 3ª ficha cai.
Eu tinha dado uma batida violenta, e depois levado outra, exatamente em cima de mim. E por alguma razão que até agora não entendi direito (pode ter sido a segurança do carro, pode ter sido apenas sorte), eu saí completamente inteiro de uma batida que poderia ter me machucado muito (para não dizer outra coisa). Bateu um certo desespero, e eu desconfio que tenha até assustado um pouco a Amanda, que estava sentada do meu lado.
Pouco depois meu carro chega, e a Viviane lembra que estava com a câmera digital, que poderíamos tirar umas fotos do carro. Meu primeiro pensamento foi “Mas porque não lembrou isso no local do acidente???”, mas não disse nada, porque quando estávamos no local do acidente eu também não conseguia pensar em nada. Após sair do carro, fiquei olhando para ele, pensando “ainda bem que foi só o lado direito”, até que um cara veio falar comigo, e eu perguntei “você também bateu?” e ele me respondeu “Pô, eu entrei rodando lá na tua porta”. Isso. Não era só o lado direito. O lado esquerdo também tinha ficado um lixo. Até pior que o direito. Portanto o esquecimento da Viviane me pareceu normal. Eu tinha esquecido coisa muito pior.
Daí em diante foi só burocracia. B.O., papelada da apreensão do carro, notificação da multa, etc. Voltamos com meu pai, que havia ido nos pegar com um carro que também estava com os documentos atrasados.
Não cheguei a fazer mais nenhuma ligação para avisar que estava bem, por mais que tivesse sentido vontade. Todos meus créditos haviam ido embora falando com o seguro.
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Acertamos os documentos e retiramos o carro do pátio da PM na segunda-feira, pagando R$303 pelo guincho (a estadia só começaria a ser cobrada depois de 5 dias).
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O curioso é que essa é uma batida com a qual eu já havia sonhado. A imagem de uma batida como essa já existia claramente na minha cabeça.
Mas antes de achar que foi uma premonição ou qualquer coisa do tipo, acho que era um medo recorrente. Mas não deixa de ser estranho.
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Fiquei bastante chateado com batida. Chateado pela dor de cabeça, chateado por ter perdido a festa, chateado por ter sido mais uma coisa errada em um mês negro, e por ter sido jogado de volta aos meus problemas originais justamente num dia que deveria ter sido o dia de trégua e divertido que queria.
Mas principalmente chateado por ter posto a Amanda e a Viviane em risco. Fico extremamente aliviado de que elas tenham saído sem nenhum arranhão. A Viviane, apesar de ser alguém com quem eu converso pouco, se mostrou uma boa amiga. E a Amanda, se é verdade que os bons amigos podemos contar nos dedos da mão direita, tem pelo menos o dedinho.
Teria sido muito duro se uma das duas tivesse se machucado por minha causa.
.....
*Paella de Abella*: Uma vez o Keyller fez uma paella sob uma das árvores da casa, exatamente embaixo de uma colméia de abelhas. A hora que a fumaça começou a subir as abelhas começaram a cair. Muitas! E não havia como tirá-las da paella, mas também não havia como jogar fora e começar do zero.
Então comemos assim mesmo. Crocante. E não chegou a alterar o gosto.

5 Comments:

Blogger pita said...

hm, muito engraçado como a história fica bem mais completa depois de passado um tempo...
e essa batida foi foda!
e eu sempre SEI qdo vou bater o carro, pq eu sonho no dia anterior. não exatamente com o acidente, mas com alguma coisa do gênero.

7:16 PM  
Anonymous Anônimo said...

ok. além do próprio ros, temos mais um médium...

3 coisas, ros:
1. dramático. gostei da literatura... obviamente não do acidente.
2. não foi um dia tão ruim, afinal, a noite foi bacana... Pmugf de chofer, Wallace & Gromit, Fila na Pizza Hut pra comer a R$9,00 cada, e boteco (ou seria "bar") na Vila Madalena com bandinha cover... Hm. Esquece... Foi péssima!
3. Isso é que é post quilométrico! Incomparável a qualquer um do meu blog. Parabéns.

11:43 PM  
Blogger Ros said...

Pita, a história já era completa antes, mas eu sempre tive preguiça de contar.
Além disso, eu enxuguei bastante para poder escrever aqui.

Obrigado Pmugf. Mas tinham alguns erros de pontuação e de formatação que eu espero ter corrigido.
E, como eu já disse, podia ter sido muito mais kilométrico.

2:13 PM  
Anonymous Anônimo said...

Oi Vitché,
Adorei o seu blog, depois vou entrar com mais calma p/ ler tudo. Mas gostaria de fazer alguns comentários sobre o acidente: 1. antes de bater vc disse claramente: tem oléo na pista, vc não lembra? 2. do jeito q vc descreveu a nossa saída do carro eu pareço uma idiota, o q não é verdade (ou é? rs). To brincando, mas no momento q a Vi ia sair do carro eu não pulei na frente dela, eu estava tentando levantar o banco p/ ela sair, pq ela não tava conseguindo. Entendeu?
Ah! eu lembro da paella de abelha, ficou muito boa (hehehe), será q a gente tinha bebido muito vinho?
Bjs

4:52 PM  
Blogger Ros said...

>

3:19 PM  

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